Meu velho e saudoso pai na sua simplicidade de quem conhece da sabedoria popular e de quem não pôde estudar porque aos 12 anos foi para o mercado de trabalho para se tornar um grande carpinteiro – um artista no trato da madeira – repetia sempre um dito popular da sua época quando queria falar de pessoas, das muitas personalidades e respetivos caráter para explicar seus atos. Dizia “O feijão cria de tudo”.
Tão simples e verdadeiro.
A leguminosa que alimentou Chico Mendes, defensor da floresta amazônica militante da ecologia e mártir, também alimenta o atual ex-Ministro do Meio Ambiente responsável pelas políticas públicas de proteção (?) da natureza (sic).
Recebi uma manifestação indignada e justa de uma amiga sobre o corte de uma arvore centenária no Lar São Vicente de Paula. Que ironia!
Sobre o crime (para nós) de determinar a derrubada de uma árvore de 200 anos como responder? Trata-se de valores humanos. Ah!, financeiros também.
É mais revelador do que parece.
O que é uma arvore mesmo que centenária, para uma sociedade em que 80% dos seus cidadãos no exercício do mais simbólico dos atos de cidadania que é o voto, no seu pleno direito escolhe um governo que;
Mesmo veladamente estimula a queimada da floresta amazônica;
Assistiu passivamente o desastre ecológico no pantanal;
Aprova a entrada no país de mais de mil agrotóxicos que nos próximos anos irão envenenar as nossas mesas (aquelas que conseguirem ter alimentos sobre elas);
Que entende que nossos povos originários não precisam ser respeitados em seus direitos e suas terras podem e devem segundo sua visão de mundo ser invadidas e exploradas, suas riquezas tiradas na mão grande, como acontece desde que o europeu chegou aqui a 500 anos, para trocar por apitos e espelhos por ouro e pedras preciosas;
Que naturaliza mais de meio milhão mortes (infelizmente não deve ficar nisso) de seres humanos por complicações da Covid, que para ele são só números.
Mas que tinham sonhos, eram pais, filhos, avós, netos, amigos que se foram numa pandemia mal conduzida porque afinal “todos vamos morrer um dia” mesmo.
Por isso não compra vacina, única alternativa farmacológica para o controle e combate da pandemia.
Que tem como política de governo a imunização de rebanho por contágio, resultando num verdadeiro genocídio como no laboratório que foi a cidade de Manaus.
Quando decide comprar vacina é da forma como está revelando a CPI em andamento.
Então, o que é uma arvore, mesmo que centenária, se a derrubada de uma floresta, o desaparecimento de espécies de animais e plantas, além do massacre dos povos originários em nome do lucro, se grande parte do nosso povo naturaliza esses fatos?
Uma das explicações possíveis, complementando esta breve reflexão é olhar e ler o mapa eleitoral e vamos compreender que nossa tristeza não será compartilhada por muitos e a repercussão terá pouco eco, o que não significa que devamos nos omitir, nos calar.
Só quero dizer que a luta vai exigir muito esforço e o tempo será longo.
Para o corte da arvore alguma explicação simplória poderá vir, isso quando muito, para dizer que a arvore estava condenada, morta, ou de alguma forma oferecendo perigo para segurança de pessoas, quebrando alguma calçada (ou ameaçando algum patrimônio).
Que será plantada outra no lugar, mesmo que o argumento seja só uma aposta no esquecimento e na nossa falta de memória, ou na nossa imobilidade pela falta de consciência ecológica.
O nosso protesto deve ser registrado e nossa indignação deve ser nosso estímulo para continuar fazendo a luta desse lado, na defesa de toda forma de vida e de valores humanitários.
Quero concluir repetindo o mesmo questionamento com o qual iniciei o texto: o que é uma arvore centenária para essa gente, seja lá quem for o responsável pela derrubada e morte dela?
Até a próxima.

José Norbal de Moraes Marques. Professor de história, ex-vereador de Tatuí (89-92), diretor do escritório de governo (91-95), radialista (95-03), assessor parlamentar da ALESP e Câmara Federal, secretario administrativo e chefe de gabinete em Buri e Presidente da Fundação Educacional Manoel Guedes.